terça-feira, 17 de maio de 2011

Projeto Juventude e Gênero



Oficina de Capacitação Projeto Juventude e Gênero







Lançamento Projeto Juventude e Gênero


TRAJETÓRIA DA JUVENTUDE NO MSTTR



*Érika Galindo
Assessora da Sec. de Jovens da CONTAG

            É importante estarmos dialogando um pouco sobre qual o espaço e o papel da Juventude Rural dentro do MSTTR. Historicamente os (as) jovens do campo tiveram uma participação nas frentes de luta desse movimento de forma mais tímida, onde se contava com a presença massiva das gerações de nossos pais, avós, e o(a) jovem acompanhava a luta pela terra ( que foi a primeira grande bandeira de luta do MSTTR) .
             È também verdade que a organização sindical não se preocupava para buscar os/as jovens para uma participação mais ativa, num sentido mais organizado. No entanto o MSTTR foi crescendo, nossas demandas aumentando a tal ponto que se fez necessário buscar a juventude para estar na linha de frente destas bandeiras de lutas, a luta pela terra, pelo crédito, educação, saúde, entre outras.
A participação da juventude nas ações do movimento sindical de trabalhadores (as) rurais vem desde o início da luta sindical, mas é no 8º congresso que o MSTTR delibera a criação das Comissões e Coordenações da Comissão de Jovens em todas as três instâncias do movimento sindical, na intenção de consolidar ações estratégicas que fortaleçam a participação política e organização sindical dos/as jovens do campo. Neste momento são constituídas a Coordenação e Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da CONTAG (no 10º Congresso a Coordenação de Jovens passa a ser denominada por Secretaria, consolidando sua legitimidade no âmbito da estrutura nacional do MSTTR).
Visando o empoderamento da juventude, a Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores (as) Rurais da CONTAG elaborou um “Plano Político de Ação” para o período de gestão 2001 a 2005. Este plano baseou-se na ampliação de debates estaduais para motivar a constituição de Comissões e Coordenações de Jovens a nível estadual e municipal. Resultado deste processo, bem como da atuação qualificada e sistemática da juventude rural na base, é que hoje estão constituídas 26 Coordenações e 20 Comissões Estaduais de Jovens Trabalhadores/as Rurais nas FETAGs, e várias instâncias organizativas equivalentes nos sindicatos.
Por meio do “Plano Político de Ação” realizou-se também: reuniões nacionais periódicas da Comissão Nacional de Jovens, cursos sobre sindicalismo rural e articulações institucionais a nível nacional e internacional de fortalecimento da ação da juventude rural (à exemplo do Encontro Mundial de Agricultores na África – Camarões, Encontro de Jovens Agricultores na Espanha, Fórum Social Mundial em Porto Alegre-RS, Congresso Mundial de Jovens Agricultores em Paris-França e Festival Mundial da Juventude em Barcelona – Espanha). Coroando este processo, foi realizado no ano de 2003, o concurso nacional para a seleção da logomarca da CNJTTR, que envolveu todos os estados brasileiros, para a definição de uma marca que representasse a identidade nacional dos/as jovens do campo.
Cada vez mais se consolida a participação da juventude nas ações de massa (GTB e Marcha das Margaridas, etc), nos conselhos deliberativos, assembléias, reuniões, encontros e congressos estaduais e nacional do MSTTR,  e nas instâncias públicas de controle social das políticas públicas. Nestes espaços a juventude vem reafirmando as bandeiras políticas estratégicas dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais, como também defendendo suas demandas específicas, favor de melhores condições de vida e produção para permanecer no meio rural. Apesar do forte empoderamento da juventude, ainda são grandes as dificuldades de inserção e participação desse segmento nas instâncias do MSTTR.
A realização, entre os anos de 2001 e 2002, do Projeto CONTAG/UNICEF de Pesquisa sobre Adolescência e Juventude Rural, permitiu o levantamento de dados sobre o perfil da juventude rural brasileira, seus contextos e perspectivas. Com este material, assegurou maior contundência entre as ações da Comissão de Jovens da CONTAG e os desejos dos/as jovens rurais. Pode-se perceber diferentes identidades que marcam a juventude do campo, elemento que demanda políticas diferenciadas, coerentes com essa diversidade.
Em 2003, centenas de jovens rurais participaram de um amplo processo formativo, desenvolvido a partir de 10 seminários regionais, orientado pelo tema Juventude Rural Protagonista do Desenvolvimento Local Sustentável. Esta ação coordenada pela CONTAG, com o apoio da GTZ (Agência de Cooperação Técnica do Governo da Alemanha), permitiu o desenvolvimento de um intenso debate político em torno das questões da Reforma Agrária, Agricultura Familiar, Assalariamento Rural, Agroecologia, Meio Ambiente, Organização da Produção e Saúde Reprodutiva, DST, AIDS e Violência no campo. Este processo culminou na realização do "Salão Nacional da Juventude Rural", realizado em outubro de 2003 (Brasília – DF), caracterizado como um momento de denúncia do restrito acesso aos direitos sociais, vividos pela juventude do campo e de proposição política para a superação dos problemas que historicamente afligem a juventude rural brasileira.
Em 2004 a Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores (as) Rurais da CONTAG criou o “Programa Jovem Saber” com o objetivo de ampliar as oportunidades de formação entre jovens rurais brasileiros. Fortemente relacionado as questões da juventude, desenvolvimento rural sustentável e solidário e da participação política o programa é constituído por aproximadamente 30 mil jovens, dos 26 estados brasileiros e Distrito Federal, organizados em grupos de estudos espalhados por todo país. Baseado no estado em grupo e na participação em atividades formativas estaduais e nacionais, os jovens são estimulados a refletir e transformar a realidade local. O programa está dividido em 6 módulos que tratam dos temas: 1) Desenvolvimento Rural Sustentável e Cidadania; 2) Juventude, Reforma agrária e Agricultura Familiar; 3) Juventude e Organização da produção; 4) Organização e Gestão Sindical; 5) Educação do Campo e metodologia de Trabalho em Grupo; 6) Juventude: Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos.
Na intenção de promover relações sindicais mais democráticas e a maior participação juvenil na vida sindical, o 9º Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (2005) aprovou o estabelecimento da cota de participação, de no mínimo 20% de jovens nas instâncias deliberativas do MSTTR. Esta foi uma importante conquista da juventude rural, que fortaleceu reflexões políticas sobre relações mais justas e democráticas no âmbito do MSTTR, em consonância com a iniciativa das mulheres trabalhadoras rurais, que protagonizaram o debate da participação e das cotas no mundo sindical.
Entre 2005 e 2008, a CONTAG coordenou um amplo processo de formação política e capacitação profissional de jovens rurais, através do Consórcio Social da Juventude Rural – Rita Quadros. Este programa, foi fruto de intensa negociação com o Ministério do Trabalho, na intenção de promover ações formativas específicas com jovens do campo, não contemplados inicialmente pelo programa. O Consórcio capacitou mais de 4 mil jovens das 5 regiões do país, e produziu novas experiências formativas que vem sendo assumidas pelas FETAGs e sindicatos.
Foram realizadas duas edições do Festival Nacional da Juventude Rural, a primeira delas em 2007 e a segunda em 2010. Os Festivais foram antecedidos por ações estaduais e municipais, que trataram de temas relativos ao cotidiano da juventude rural. Estes espaços, seja nacional, estaduais ou municipais, valorizaram as dimensões da formação política, negociação junto aos governos e estímulo a produção cultural da juventude do campo, trazendo também para a agenda a necessidade de assegurar espaços de esporte e lazer no meio rural. O Festival vem se consolidando enquanto ação de massa estratégica do MSTTR e assegurando maior visibilidade as demandas juvenis.
Inquestionavelmente, a organização da juventude rural tem influenciado a agenda política dos governos federal e estaduais, por conta da ação propositiva, da negociação política e do controle social exercido pela pelos/as jovens do MSTTR. A juventude rural, vem afirmando a necessidade de produzir políticas específicas para este segmento, que respeitem a identidade rural e que dialoguem com a consolidação do desenvolvimento sustentável e solidário. Mesmo diante de importantes conquistas, como o PRONAF-JOVEM, Nossa Primeira Terra e o PROJOVEM Campo e trabalhador, estas políticas ainda expressam profundo limites, além disso, entendemos que é preciso avançar na garantia dos direitos sociais, não nos limitando a programas específicos. É indispensável permanecermos na luta, qualificando nossa intervenção política!!!
A juventude rural do MSTTR vem fortalecendo sua atuação nos espaços, nacionais e internacionais, de debate e monitoramento das políticas públicas, a exemplo do Conselho Nacional de Juventude e GT Juventude Rural do CONDRAF (Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável) e Reunião Especializada da Agricultura Familiar do MERCOSUL. Além disso, vem integrando redes internacionais com organizações parceiras, para fortalecer o diálogo e a pauta política da juventude do campo, especialmente no âmbito da COPROFAM e Activistas pela Américas.
Neste sentido, a trajetória política da juventude rural no MSTTR vem afirmando o papel estratégico deste segmento para a construção de um sindicalismo forte, democrático e de luta, compreendendo que esta missão só tem sentido a partir da atuação qualificada em torno da defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, que afirma um modelo de desenvolvimento nacional sem desigualdades.